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Algodão

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Frutos de algodão abertos prontos para a colheita
Campo algodão em Singalandapuram, Tamil Nadu, índia, em 2017

O algodão (do árabe القُطُن al-qutun) é uma fibra branca (esbranquiçada) que cresce em volta das sementes de algumas espécies do gênero Gossypium, família Malvaceae. Há muitas espécies nativas das áreas tropicais da África, Ásia e América, e desde o final da última Era glacial tecidos já eram confeccionados com algodão. Atualmente, somente 4 espécies são aproveitadas em larga escala para a confecção de tecidos e instrumentos médicos. É uma planta subtropical, comum no México, Austrália e África.[1] Estima-se que a produção mundial gire em torno de 25 milhões de toneladas anualmente.[2]

Descrição

Algodão são as fibras que são colhidas manualmente ou com a ajuda de máquinas. Sendo que a forma manual de coleta é feita normalmente nos arbórea e traz um produto muito mais livre de impurezas. De uma forma ou de outra, as fibras sempre contêm pequenas sementes negras e triangulares que precisam ser extraídas antes do processamento das fibras. As fibras são, de facto, pêlos originados da superfície das próprias sementes. Estas sementes ainda são aproveitadas na obtenção de um óleo comestível. Pesquisas indicam que o composto gossipol, extraído da semente, pode ser empregado como contraceptivo masculino.[3]

Nos primeiros 28 dias após a abertura da flor, as referidas células crescem rapidamente em comprimento, até 91% do comprimento final. Em seguida, o crescimento dos 9% finais torna-se lento e estabiliza-se em torno dos 47-51 dias do florescimento. Aos 21 dias, a parede da célula se resume, basicamente, em cutícula e camada, fina, de celulose.[4]

Fase de deposição de celulose

De 21 até os 52-56 dias após a abertura da flor, a deposição de celulose é intensa (96%), com o consequente engrossamento da parede secundária por camadas concêntricas sucessivas de material depositado, de fora para dentro da fibra. A deposição dos 4% finais é de forma lenta e se estabiliza aos 61-64 dias do florescimento. A temperatura e a luminosidade influem decisivamente na quantidade de celulose depositada, que se associa ao grau de maturação da fibra de algodão. Esse comportamento é mostrado na fase de deposição de celulose na fibra.

A principal forma de cor é o branco puro.

Fase de abertura dos frutos (maçãs)

Aspecto do fruto antes e depois da abertura

Nos últimos dias antes da abertura das maçãs, a deposição de celulose é mais lenta.

A expansão da massa de fibras, aliada ao aumento da pressão interna, e o processo de desidratação gradual da casca da maçã provocam a sua própria abertura, que passa a ser denominada de capulho ou pulhoca.

Capulho de algodão aberto (fibra madura)

Com a abertura dos frutos ocorre perda de água com grande rapidez, provocando a contração das fibras sobre si. Há colapso da forma tubular, com achatamento das fibras que assumem, na sua seção transversal, a forma característica de grão de feijão. Aparecem, ao longo das fibras achatadas, os pontos de reversão ora para um lado ora para o outro, conferindo-lhes a sua qualidade de fiabilidade.

Estrutura da fibra

Aparência de verniz. Contém cera, gomas, pectinas e óleos. A cera é responsável pelo controle da absorção de água.

Cutícula

É a parte mais externa da fibra e constitui uma camada de proteção, fina e resistente, com função de proteção da fibra.

Parede primária

É constituída por celulose, na forma de fibrilas microscópicas dispostas transversalmente em relação ao comprimento da fibra, em espirais Dextro ou levógiras. Numa mesma fibra, o sentido das espirais não muda. A formação da parede primária determina o comprimento da fibra. Essa parede contém outras substâncias também, como açucares, pectinas e proteínas.

Parede secundária

A parede secundária localiza-se abaixo da parede primária, representando a maior parte da espessura desta. É constituída de várias camadas concêntricas de celulose quase pura, na forma de fibrilas cristalinas aglomeradas em espirais, cujo sentido muda ao longo de uma mesma fibra. Da sua natureza dependem fundamentalmente a resistência e a maturidade da fibra.

Lume ou lumem

É o canal central da fibra. De seção circular durante a formação desta, passa a ter contorno irregular após o processo de desidratação (colapso). Contém resíduo protéico do protoplasma da célula que originou a fibra. A fibra madura apresenta paredes relativamente espessas, com menos torções e lume reduzido, ao passo que fibras imaturas são mais achatadas e contorcidas, com paredes delgadas e lume amplo.

Composição química

O principal componente da fibra de algodão é a celulose, que representa a maior parte da sua composição química. A cadeia de celulose é constituída por moléculas de glicose. A disposição destas moléculas na cadeia é denominada de celulose amorfa e cristalina, e tem importante papel nas características das fibras. Depois da celulose, a cera constitui-se de grande importância na fibra de algodão. É responsável pelo controle de absorção de água pela fibra e funciona como lubrificante entre as fibras durante os processos de estiragem na fiação.

Composição química aproximada da fibra de algodão, determinada em fase seca:

Componente Percentual
Celulose 94,0 %
Proteínas 1,3 %
Cinzas 1,2 %
Substâncias pécticas 0,9 %
Ácidos málicos, cítrico, etc. 0,8 %
Cera 0,6 %
Açúcares totais 0,3 %
Não dosados 0,9 %
TOTAL 100 %

Contracepção

Durante o período da escravidão nos Estados Unidos, a casca das raízes do algodão era usada na medicina popular como abortivo, ou seja, para indução de aborto. O gossipol é uma das substâncias encontradas em todas as partes do algodoeiro. Também parece inibir o desenvolvimento dos espermatozoides e reduzir sua mobilidade. Além disso, evidências limitadas sugerem que o algodão possa interferir no ciclo menstrual por inibir a liberação de hormônios.[5]

Produção mundial

País Produção em 2018
(toneladas anuais)
Predefinição:Country data China 17.711.962
 Índia 14.657.000
 Estados Unidos 11.429.937
 Brasil 4.956.044
Paquistão 4.828.439
 Turquia 2.570.000
 Austrália 2.500.000
 Uzbequistão 2.293.039
 Grécia 837.432
 Argentina 813.692
Fonte: Statista[6]

Produção no Brasil

Principais estados produtores de algodão no Brasil em 2020, em amarelo escuro

Em 2018, o Brasil produziu 4,9 milhões de toneladas de algodão, sendo o 4º maior produtor do mundo.[7] Os estados que mais produzem são, principalmente, Mato Grosso e Bahia (onde está a maior parte da produção nacional), seguidos por Minas Gerais e Goiás.[8][9] O algodão foi o 19º produto mais importante da pauta de exportações brasileira em 2019, com uma receita de U$ 2,6 bilhões. Os maiores compradores do algodão brasileiro neste ano foram: China, Vietnã, Indonésia, Bangladesh e Turquia.[10]

Fibra do algodão e o meio ambiente

Fibra de algodão, cerca de três meses para começar a se decompor no meio ambiente.

A fibra do algodão não traz fortes impactos se descartada indevidamente no meio ambiente, uma vez que seu material é orgânico, e leva cerca de três meses apenas para se decompor completamente. Por outro lado, é um material de dificuldade moderada para reciclagem. A partir de ações de logística reversa, retalhos de tecido de algodão, assim como roupas, podem ser levadas a empresas que possuem máquinas desfibradoras, e executam a reciclagem mecânica do tecido, gerando um material chamado de "desfibrado".

Se o desfibrado for composto por algodão e uma mistura de outras fibras, como o elastano, o desfibrado será utilizado para a elaboração de cobertores, e usado como enchimento de estofados e preenchimento acústico. Caso o material desfibrado for composto apenas de algodão, este poderá ser unido a fibras virgens de algodão ou poliéster, e tornar-se novamente um fio. Na possibilidade da reciclagem química, a fibra é diluída e passa por um processo similar ao da viscose, para tornar-se novamente um fio.

Seu maior impacto pode ocorrer durante a fase de cultivo, principalmente se feito incorretamente, pois exige grandes áreas férteis para sua produção e o uso intensivo de defensivos agrícolas (herbicidas, inseticidas e fungicidas), dada a grande quantidade de pragas e doenças que afetam a cultura.

A classificação do algodão é usada para determinar a qualidade da fibra de algodão, em termos de qualidade, comprimento e micronaire (uma medida da espessura e da maturidade da fibra de algodão). O USDA (United States Department of Agriculture) classifica especificamente as características de comprimento da fibra, a uniformidade de comprimento, a resistência, o micronaire, a cor, a preparação, a folha e as matérias estranhas. No passado, essas qualidades foram classificados apenas com a mão e o olho de um profissional experiente. Desde 1991, toda a classificação foi realizada com um conjunto de up-to-date de instrumentos, chamado de classificação HVI (High Volume Instrumentation). No entanto, as técnicas de outras qualidades de fibra de algodão, como a maturidade da fibra e teor de fibra curta, também estão a ser desenvolvidas (USDA, 1995).

Propriedades físicas e valor do algodão no mercado

Plantação de algodão

As propriedades físicas da fibra determinam a sua qualidade ou valor tecnológico. No entanto, o conceito de qualidade do algodão sofreu modificações no passado em função das determinações tecnológicas comumente realizadas.

Antigamente o valor do algodão era considerado apenas em função do comprimento da fibra e do tipo comercial, sendo o primeiro determinado manualmente pelos classificadores e o segundo, visualmente, em função da limpeza, aparência, cor e aspectos de beneficiamento. Na época da Revolução Industrial, o algodão era tão importante quanto o petróleo é desde meados do século XIX.[11]

A pesquisa tem revelado a importância de outras características físicas, utilizando aparelhos adequados, cuja evolução foi rápida nas últimas décadas. Hoje em dia, a maioria das indústrias já leva em consideração o Índice Micronaire, a tenacidade da fibra e a maturidade na avaliação da matéria-prima.O teste considerado padrão nos dias de hoje, para aferir as qualidades da fibra chama-se HVI (High Volume Instrument). A classificação visual também é muito utilizada ainda.

Os problemas causados pela infestação da praga do bicudo-do-algodoeiro, aliado ao forte movimento de abertura da economia brasileira no início dos anos 90, provocou uma forte retração na produção doméstica e permitiu a entrada de importações subsidiadas. Em 1986, a tarifa de importação de algodão em pluma praticada pelo Brasil era de 55%, sendo reduzida paulatinamente até ser zerada em 1993, taxa que também passou a valer em definitivo para os parceiros do Mercosul.

As importações de produtos altamente subsidiados nos países de origem contavam ainda com prazos de pagamento de até 360 dias e juros muito menores que os disponíveis aos produtores nacionais.

Após a reversão dos preços internacionais ocorrida no biênio 94/95 e a constatação do alto custo social decorrente do desemprego de milhares de famílias no norte do Paraná, que tinham no algodão uma das poucas alternativas para a pequena escala de produção de suas propriedades, o Governo brasileiro resolveu implementar medidas de apoio à cotonicultura nacional, elevando o preço mínimo, cobrindo 100% do VBC nos empréstimos oficiais e garantindo a elevação da alíquota de importação para produto de países de fora do Mercosul, em 1% ao ano, entre 1996 e 2000.

Por enquanto, essas medidas não foram suficientes para criar condições de competitividade em relação ao algodão importado. Espera-se, portanto, que novas medidas de caráter protecionista, como a obrigatoriedade de pagamento à vista das importações, sejam implementadas em breve.

Entretanto, aspectos tecnológicos, como o comprimento de fibra requerido pelo parque têxtil nacional e ainda não atendidos pelo setor produtivo local, aliados à crescente disponibilidade de algodão na Argentina e à rápida evolução técnica dessa lavoura no Paraguai, devem determinar a continuidade da participação das importações de algodão em pluma do Mercosul por muitos anos.

A maior proteção decorrente de uma política comercial mais agressiva por parte do Brasil, o crescimento do consumo puxado pela renda, a adaptação de variedades mais produtivas e com maior aceitação comercial e o fato de o algodão ser uma boa alternativa de rotação de cultura com soja e milho devem, em conjunto, contribuir para um crescimento da produção brasileira nos próximos anos, permitindo uma colheita de 1,8 milhão de toneladas de algodão em caroço no ano 2000, conforme ilustra a tabela anexaPredefinição:Onde?.

Referências

  1. The Biology of Gossypium hirsutum L. and Gossypium barbadense L. (cotton). ogtr.gov.au
  2. "Natural fibres: Cotton", International Year of Natural Fibres
  3. Redetec
  4. Wegerich K. 2002. Natural drought or human-made water scarcity in Uzbekistan? Central Asia and the Caucasus. 2, 154–162.
  5. Perrin, Liese M. (2001). «Resisting Reproduction: Reconsidering Slave Contraception in the Old South». Journal of American Studies. 35 (2): 255–274. JSTOR 27556967. doi:10.1017/S0021875801006612 
  6. Statista. «Cotton production in 2019». Consultado em 29 de agosto de 2020 
  7. «Agricultura do Brasil em 2018, pela FAO». FAO. Consultado em 19 de fevereiro de 2021 
  8. «Qualidade do algodão de MT é destaque em congresso nacional». G1. Consultado em 27 de fevereiro de 2021 
  9. MT segue como líder isolado na produção de algodão e safra sobe para 65% em 2017/18
  10. Exportação brasileira de algodão
  11. The Half Has Never Been Told: Slavery and the Rise of American Capitalism (New York: Basic Books, 2014. P.XXI)

Ligações externas

Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
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Commons Imagens e media no Commons
  • «Gossypium links». Links para páginas informativas sobre o algodão e o gênero Gossypium. 

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