A Imperial Ordem da Rosa foi uma ordem honorífica brasileira. Foi criada em 17 de outubro de 1829[1] pelo imperador D. Pedro I (1822 — 1831) para perpetuar a memória de seu matrimônio, em segundas núpcias, com Dona Amélia de Leuchtenberg e Eischstädt, um dia após sua chegada ao Brasil. Foi extinta em 24 de fevereiro de 1891, juntamente com todas as outras ordens e títulos nobiliárquicos existentes no Brasil.[2][3]
História
O seu desenho foi idealizado por Jean-Baptiste Debret que, segundo discutido por historiadores, ter-se-ia inspirado ou nos motivos de rosas que ornavam o vestido de D. Amélia ao desembarcar no Rio de Janeiro, ou ao se casar, ou num retrato da mesma enviado da Europa ao então Príncipe.
A ordem premiava militares e civis, nacionais e estrangeiros, que se distinguissem por sua fidelidade à pessoa do Imperador e por serviços prestados ao Estado, e comportava um número de graus superior às outras ordens brasileiras e portuguesas então existentes.
O imperador era grão-mestre da ordem, o herdeiro presuntivo era grã-cruz e grande-dignitário-mor e todos os outros príncipes recebiam a grã-cruz.
De 1829 a 1831 D. Pedro I concedeu apenas cento e oitenta e nove insígnias. O seu filho e sucessor, D. Pedro II (1840 — 1889), ao longo do segundo reinado, chegou a agraciar 14.284 cidadãos. Além dos dois imperadores, apenas o duque de Caxias foi grande-colar da ordem durante sua vigência.
Um dos primeiros agraciados recebeu a comenda em virtude de serviços prestados quando de um acidente com a família imperial brasileira: conta a pequena história da corte que, em 7 de dezembro de 1829, recém-casado, D. Pedro I regressava com a família do Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista. Como de sua predileção, conduzia pessoalmente a carruagem quando, na rua do Lavradio, se quebrou o varal da atrelagem e os cavalos se assustaram, rompendo as rédeas e fazendo tombar o veículo, arrastado perigosamente. O Imperador fraturou a sétima costela do terço posterior e a sexta do terço anterior, teve contusões na fronte e luxação no quarto direito, perdendo os sentidos. Mal os havia recobrado quando o recolheram à casa mais próxima, do marquês de Cantagalo, João Maria da Gama Freitas Berquó. Segundo o Boletim sobre o Desastre de Sua Majestade Imperial e Fidelíssima publicado no Jornal do Commercio, Dona Amélia foi a que menos cuidado exigiu: "não teve dano sensível senão o abalo e o susto que tal desastre lhe devia ocasionar". A filha primogênita, futura Maria II de Portugal, "recebeu grande contusão na face direita, compreendendo parte da cabeça do mesmo lado". Augusto de Beauharnais, Príncipe de Eichstadt, Duque de Leuchtenberg e Duque de Santa Cruz, irmão da imperatriz, "teve uma luxação no cúbito do lado direito com fratura do mesmo". A baronesa Slorefeder, aia da Imperatriz, "deu uma queda muito perigosa sobre a cabeça". Diversos criados de libré, ao dominarem os animais, ficaram contundidos. Convergiram para a casa de Cantagalo os médicos da Imperial Câmara e outros, os doutores Azeredo, Bontempo, o Barão de Inhomirim, Vicente Navarro de Andrade, João Fernandes Tavares, Manuel Bernardes, Manuel da Silveira Rodrigues de Sá, Barão da Saúde. Ao partir, quase restabelecido, D. Pedro I condecorou Cantagalo a 1 de janeiro de 1830 com as insígnias de dignitário da Ordem e D. Amélia lhe ofereceu o seu retrato, circundado por brilhantes, e pintado por Simplício Rodrigues de Sá.
Foram ainda agraciados com a Imperial Ordem da Rosa os membros da Guarda de Honra que acompanhavam o então Príncipe Regente em sua viagem à Província de São Paulo, testemunhas do "Grito do Ipiranga", marco da Independência do Brasil.[carece de fontes]
Após o banimento da família imperial brasileira, a ordem foi mantida por seus membros em caráter privado, sendo seu grão-mestre o chefe da casa imperial brasileira.
Características
Insígnia
- Grã-cruz
- Anverso: Estrela branca de seis pontas maçanetadas, unidas por guirlanda de rosas. Ao centro, medalhão redondo com as letras "P" e "A" entrelaçadas, em relevo, circundado por orla azul-ferrete com a legenda "AMOR E FIDELIDADE".
- Reverso: igual ao anverso, com alteração na inscrição para a data de 2-8-1829, e, na legenda, para "PEDRO E AMÉLIA".
- Colar: rosas e brasões do estilo francês, com as letras "P" e "A" entrelaçadas, ligadas por um fio dourado.
Fita e banda
De cor rosa-claro, com duas orlas brancas.
Graus
Os graus em ordem decrescente são:[4]
- Grã-Cruz (com o tratamento de Excelência e limitado a 16 recipientes)
- Grande-Dignitário (com o tratamento de Senhor e limitado a 16 recipientes)
- Dignitário (com o tratamento de Senhor e limitado a 32 recipientes)
- Comendador (com o tratamento de Senhor e ilimitado em número de recipientes)
- Oficial (gozava das honras de Coronel e ilimitado em número de recipientes)
- Cavaleiro (gozava das honras de Capitão e ilimitado em número de recipientes)
Titulares
- Agostinho José da Motta
- Alfred Nobel
- Annibale de Gasparis. Diretor do Observatório Astronómico de Capodimonte de Nápoles, descobridor de 9 asteroides
- Antônio Augusto de Souza. comendador Souza
- Antônio da Costa Pinto Júnior
- Antônio Herculano de Sousa Bandeira Filho
- Antônio José Dias Carneiro
- Antonio Lazzarini (1820-1890), médico-cirurgião, oficial da Imperial Ordem da Rosa
- Antônio Luís von Hoonholtz
- Antônio Gastão de Orléans e Bragança
- Antônio Ribeiro de Castro
- Antônio Rodrigues de Azevedo Ferreira
- Bertrand de Orléans e Bragança
- Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, 1.° Visconde de Correia Botelho
- Carel Joachim Wylep (1789-1857), oficial da Imperial Ordem da Rosa em 1 de janeiro de 1851
- Carlos Pereira Nunes. 1º barão e visconde de São Carlos, político e fazendeiro ilustre
- Cap. Luiz Paulino de Holanda Valença, comandante da Guarda Nacional em São Bento do Una, em Pernambuco
- Comendador Antonio José Nogueira, nascido na Freguesia do Senhor Bom Jesus do Livramento (Bananal), do Município de Arêas, em 1793 e falecido em 8 de abril de 1864, em Angra dos Reis. Coronel da Guarda Nacional. Oficial da Imperial Ordem da Rosa; comendador da Imperial Ordem de Cristo e da Imperial Ordem da Rosa
- Cel. Alexandre Francisco de Oliveira (Coronel da Guarda Nacional, Papari, Rio Grande do Norte)
- Charles Adolphe Pradez (1825-1885), oficial da Imperial Ordem da Rosa em outubro de 1883
- Dr. Carlos Chidloe. Médico homeopata, um dos grandes difusores desta ciência médica no Brasil[5]
- Christine de Ligne e Orléans e Bragança [6]
- Dr. Jean Maurice Faivre, fundador da Colônia Thereza Cristina e médico pessoal da Imperatriz Teresa Cristina
- Daniel Makinson Fox
- Eleonora de Orléans e Bragança
- António Feliciano de Castilho, 1.° Visconde de Castilho
- Firmin François Alibert [7]
- Francisco Antônio de Barros e Silva
- Francisco de Assis e Oliveira Borges
- Francisco Joaquim de Noronha e Silva [8][9]
- Francisco José do Canto Mello e Castro Mascarenhas, doutor em medicina, conservador do laboratório químico, lente da cadeira de física geral. Era bibliotecário da biblioteca do Imperador, comendador da Imperial Ordem da Rosa e cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo.
- Francisco Lopes de Oliveira Araújo
- Gel. Francisco Marconde Homem de Mello, 2.° barão, depois visconde de Pindamonhagaba
- Gustave Rumbelsperger, naturalista francês
- Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mello, barão Homem de Mello, Ministro do Segundo Império
- Henrique Antônio de Ligne
- Henri Pradez (1858-1932), cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa em 17 de junho de 1882
- Horácio Fortunato Urpia
- Ildefonso Pereira Correia
- Inácio de Sousa Rolim
- Isabel Maria de Orléans e Bragança
- Jacintho Ferreira de Carvalho
- James Norton
- Jean Pierre Gay, 1.° Visconde de Gay
- João Chrisostomo Callado, Marechal do Exército Brasileiro e Conselheiro de Guerra do Império
- Joaquim Fernandes Lopes Ramos
- Joaquim José de Sousa Breves
- Joaquim Xavier Neves
- Jonathas Abbott
- José Alves Rangel[10], primeiro barão com grandeza de São João da Barra, cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo e oficial da Imperial Ordem da Rosa
- José Antônio Gomes Neto
- José Bernardino de Barros
- José Francisco Nogueira Paranaguá
- José Joaquim da Silva Freire, barão de Santa Maria Madalena, oficial da Imperial Ordem da Rosa em 23 de setembro de 1882.
- Jules Le Chevrel
- Louis Decosterd (1808-1873), cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa em 5 de maio de 1844
- Luís Gonzaga de Brito Guerra
- Luís Martins Collaço
- Machado de Assis
- Manoel José Gomes Calaça (1811-1898) patriarca da Famlia "Calaça'' brasileira, foi responsável por guiar e informar sobre fauna e flora na viagem que Dom Pedro II fez nas cachoeiras de Paulo Afonso-BA em recompensa recebeu o titulo em 14 de março de 1860 (data de aniversário da Imperatriz Tereza Cristina), com o título honorífico de oficial da Imperial Ordem da Rosa
- Manuel Pereira da Silva[11]
- Cel. Manoel Marcondes de Oliveira Mello, comandante da Guarda de Honra de Dom Pedro I na Independência, 1.° barão de Pindamonhangaba
- Maria Gabriela de Orléans e Bragança
- Olinto José Meira, jurista, presidente das Províncias do Pará e do Rio Grande do Norte
- Pedro Luís Taulois, deputado durante a 17ª legislatura da Província de Santa Catarina[12]
- Rafael de Orléans e Bragança
- João Gualberto de Carvalho, 1.º barão de Cajuru
Lista de grão-mestres da Imperial Ordem da Rosa
O grão-mestre desta ordem é o descendente da família imperial brasileira visto como pretendente ao trono extinto deste país:
- Dom Pedro I do Brasil (1829-1831)
- Dom Pedro II do Brasil (1831-1891; ordem privada a partir de 1889)
- Isabel de Bragança (1891-1921)
- Pedro Henrique de Orléans e Bragança (1921-1981)
- Luiz Gastão de Orléans e Bragança (1981-2022)
- Bertrand de Orléans e Bragança (2022-presente)
Pautando como ineficaz a renúncia de seu pai (Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança (Petrópolis, 15 de outubro de 1875 – Petrópolis, 29 de janeiro de 1940), Príncipe do Grão-Pará até à proclamação da república, em 1889, filho mais velho de Isabel de Bragança (1891-1921), assumiu o grão-magistério da Ordem Pedro Gastão de Orléans e Bragança (Eu, 19 de fevereiro de 1913 — Villamanrique de la Condesa, 27 de dezembro de 2007). Hoje reivindicado por seu neto, o Príncipe Dom Pedro de Bourbon de Orléans e Bragança (Petrópolis, 1979 - presente) [13]
Notas
- ↑ Lições de História do Brasil
- ↑ «Catálogo do Leilão de Novembro de 2018». Issuu (em English). Consultado em 8 de dezembro de 2020
- ↑ «Academia de História Militar Terrestre do Brasil - MOEDAS DE HONRA». www.ahimtb.org.br. Consultado em 8 de dezembro de 2020
- ↑ Silva, Camila (2011). «As comendas honoríficas e a construção do Estado Imperial (1822-1831)» (PDF)
- ↑ Diccionario bibliográphico portuguez: Estudos. Applicaveis a Portugal e ao Brasil. Suppl. 2. C - G, Volume 9 - Innocencio Francisco da Silva, Pedro W. de Brito AranhaImpr. Nacional, 1870
- ↑ Monarquia, Diga Sim à (27 de setembro de 2020). «Chefe da Casa Imperial concede mercês aos Príncipes D. Antonio e D. Christine». Diga Sim à Monarquia (em português). Consultado em 3 de dezembro de 2021
- ↑ Dousseau: Franceses no império do café - Marly Mayrink, Editora: Usina de Letras, 2012, 142 pgs.
- ↑ Jornal "A Província de Minas", ANNO IX, N. 582, Ouro Preto, 8 de maio de 1889.
- ↑ Jornal "O MAR DE HESPANHA "14 de abril de 1889.
- ↑ «José Alves Rangel». Wikipédia, a enciclopédia livre (em português). 6 de outubro de 2017
- ↑ Vasconcellos 1918, p. 114.
- ↑ Pedro Luís Taulois, Memória Política de Santa Catarina, em memoriapolitica.alesc.sc.gov.br
- ↑ Register of Orders of Chivalry. ISBN 979-12-20389-43-3 © 2022 International Commission for Orders of Chivalry (Commissione Internazionale permanente per lo studio degli Ordini Cavallereschi), p.40, in https://www.icocregister.com/registers/
Bibliografia
- Vasconcellos, Smith de (1918). Archivo Nobiliarchico Brasileiro. Lausana, Suíça: Imprimerie I.A. Concorde
Ligações externas
- «Ordem da Rosa» (em português)
Predefinição:Medalhas e Ordens honoríficas do Brasil Predefinição:Tópicos sobre o Império do Brasil